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Dólar supera R$ 1,97 e juros sobem em dia de rumores

Apenas nos últimos três dias, o dólar acumula ganho de 1,23%.

Os rumores de que uma das principais agências de classificação de risco poderia cortar a perspectiva da nota de crédito brasileira fizeram estrago no mercado de câmbio e juros ontem. O surgimento do rumor, no fim da tarde, levou dólar e taxas de juros às máximas do dia, das quais se recuperaram apenas parcialmente até o fechamento.

A moeda americana subiu 0,36%, a R$ 1,971, maior cotação em uma semana e meia, na maior sequência de altas desde a encerrada em 30 de novembro de 2012. Apenas nos últimos três dias, o dólar acumula ganho de 1,23%.

A alta causada pelo rumor de mudança na nota brasileira, que chegou a ser de 0,80%, só cedeu após as principais agências de risco, Standard & Poor"s, Moody"s Investor Services e Fitch Ratings, negarem mudanças em suas perspectivas para a classificação do Brasil. Após a negativa das três agências, o dólar cedeu um pouco, mas sem retornar ao patamar que estava antes do início do rumor. Até então, o ganho da moeda não passava de 0,20%.

"O humor está muito ruim com o Brasil, então esse tipo de boato pega fácil", disse o executivo de um banco estrangeiro. O problema, segundo ele e outros profissionais do mercado, é que apesar da negativa, as equipes das agências de risco estão, sim, preocupadas com as maquiagens fiscais realizadas ultimamente pelo governo brasileiro.

"Não acho que isso chegará num rebaixamento, acho mais provável alguma menção um pouco mais crítica na próxima reafirmação da nota. Mas nunca se sabe", disse o executivo.

Antes do rumor, o dólar já havia firmado alta, seguindo a preocupação de investidores estrangeiros com o resultado considerado ruim de um leilão de títulos realizado pelo governo italiano. Nesta semana, o país foi a mercado colocar dívida, após a nota do país ter sido rebaixada pela Fitch Ratings, na sexta-feira. A resposta do mercado veio por meio da exigência de taxas mais altas para absorver os papéis oferecidos. Como consequência, o euro caiu às mínimas em três meses, voltando a ser negociado abaixo de US$ 1,30.

Dados positivos da economia americana serviram apenas para reforçar a valorização do dólar.

A alta de ontem, porém, não chegou a ameaçar o patamar de R$ 2, considerado o teto da atual banda cambial informal do Banco Central. Para operadores, nem mesmo o fluxo cambial divulgado pela instituição teve impacto significativo sobre o câmbio. Segundo a autarquia, o fluxo cambial na semana passada apresentou déficit de US$ 785 milhões, o que fez o saldo acumulado no mês até o dia 8 se tornar negativo em US$ 368 milhões.

Os juros projetados na BM&F também subiram influenciados pelos rumores de piora da perspectiva da nota de crédito do Brasil, que apenas reforçou o quadro que já era de desconforto entre os investidores, com o cenário formado por inflação resiliente e dúvidas sobre a capacidade do Banco Central para retomar as rédeas das expectativas dos agentes.

É crescente a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai expor motivos e cenários que validem as apostas de quem espera uma taxa básica de juros mais elevada já no próximo encontro do colegiado. Hoje o BC divulga a ata da última reunião do Copom.

Os ajustes para cima começaram na terça-feira, depois que o presidente Alexandre Tombini falou, em evento na Polônia, que a inflação brasileira tem se comportado de forma resiliente. Ontem, a tendência ganhou dois impulsos. Primeiro, da informação de que coletas diárias de preços feitas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) estão mostrando aceleração dos preços.

Esse ambiente de desconforto dos agentes que atuam no mercado com o quadro macroeconômico e com a política econômica do país afetaram ainda o mercado de títulos públicos federais. Depois de colocar na terça apenas cerca de um terço da oferta de Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), papéis atrelados ao IPCA, ontem o Tesouro teve que pagar mais para conseguir colocar uma fatia maior desses papéis no mercado.