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Bancos aumentam rigor na concessão de crédito

É fato que estamos buscando reduzir o risco das concessões.

Os bancos negam a existência de bolhas de crédito no Brasil, mas cada um a sua maneira tem protegido suas carteiras da inadimplência dos consumidores. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, os maiores bancos privados do país, estão buscando refúgio em operações com garantia: financiamentos à habitação, empréstimos com desconto em folha de pagamento e mais exigências às empresas

"É fato que estamos buscando reduzir o risco das concessões. Os créditos imobiliário e consignado ajudam a ter menos volatilidade na carteira", afirmou ontem Alfredo Egydio Setubal, diretor de relações com investidores do Itaú.

Depois de enfrentar alta da inadimplência com micro e pequenas empresas, o Itaú colocou o pé no freio. Os atrasos dessas companhias fizeram com que a inadimplência das pessoas jurídicas encerrasse junho em 3,5%, uma alta de 0,3 ponto percentual em relação há um ano e de 0,4 ponto na comparação com março deste ano - movimento que acabou respingando na carteira total. A partir de agora, pequenas empresas que quiserem crédito terão de oferecer garantias.

Maior rigor também tem sido exigido no Bradesco. "Na modalidade de capital de giro pedimos garantia de recebíveis", afirmou o vice-presidente do banco Domingos Abreu.

Linhas de menor risco estão sendo privilegiadas nos desembolsos para pessoas físicas. Nas operações de crédito ao consumo, as modalidades de financiamento de veículos e consignado representam 62% do saldo de R$ 80 bilhões do Bradesco. E, mesmo contando com a garantia do automóvel, a aprovação da compra parcelada de carros está mais difícil, principalmente no segmento de usados, que têm maior dificuldade de ser vendidos em caso de não pagamento. No Itaú, 70% das pessoas que pediram um financiamento no ano passado obtiveram aprovação. Agora, esse índice caiu para cerca de 35%.

O esforço dos três grandes bancos privados para elevar a participação do crédito consignado levou a um crescimento de 30,6% dessa carteira, mais de R$ 8 bilhões em um ano, até junho. A média do mercado foi de 19,7%. "Os bancos pequenos estão menos ativos", afirmou Marcial Portela, presidente do Santander.

Apesar da busca por maior proteção, o Itaú espera uma inadimplência maior no fim do ano, saltando de 4,5% para até 4,8%. Bradesco e Santander projetam um cenário de manutenção.

Itaú diz que errou com pequena empresa

Aline Lima e Carolina Mandl | De São Paulo

No balanço do segundo trimestre do Itaú Unibanco, o sinal de alerta: piora nos níveis de inadimplência acarretou maiores volumes de provisões para devedores, fatores que, combinados, achataram o lucro. Os atrasos acima de 90 dias passaram de 4,2% no primeiro trimestre para 4,5% no segundo trimestre, crescimento acima da média do sistema (de 0,2 ponto percentual). As despesas com provisões cresceram 27% e alcançaram R$ 5,1 bilhões.A mea culpa já foi providenciada: "Fizemos uma expansão da carteira de crédito para micro e pequenas empresas e isso não se mostrou adequado", afirmou Alfredo Egydio Setubal, diretor de relações com investidores, durante teleconferência com analistas, ontem. "Talvez tenhamos acelerado demais nesse segmento."

A agressividade que o Itaú Unibanco vinha demonstrando desde o ano passado para conquistar participação de mercado no segmento de pequenas e médias empresas estava conseguindo incomodar até mesmo os bancos menores, especializados nesse nicho. Rapidez na aprovação do crédito combinada a uma "flexibilização" das garantias compunham, basicamente, a estratégia de atuação da instituição das famílias Setubal, Villela e Moreira Salles até então.

O tempo de resposta para financiamentos de até R$ 4 milhões requeridos por empresas com faturamento anual entre R$ 6 milhões e R$ 40 milhões, por exemplo, caiu de quatro para dois dias. As exigências de garantia também foram reduzidas. "Enquanto concorrentes pedem balanços formalizados, assinados pelo sócio e pelo contador, nós solicitamos apenas uma declaração assinada", contou, meses atrás, um gerente do banco. Para clientes considerados bons, as operações saíam sem garantia. "A concorrência acabou ficando para trás", comemorava o funcionário.

Setubal explicou que a carteira de micro e pequenas empresas, que soma cerca de R$ 30 bilhões, deverá perder fôlego nos próximos meses. Além disso, para evitar mais problemas com inadimplência, o Itaú passou a reforçar a exigência de garantias. Atualmente, segundo Setubal, metade da carteira já está coberta com garantias.

Questionado sobre o fato de o Itaú estar sofrendo mais do que outros bancos com os atrasos das micro e pequenas empresas, o executivo afirmou que o problema pode ter sido o fato de a instituição ter sido uma das primeiras entre os grandes bancos a atender esse segmento. "Talvez tenhamos sido os primeiros a descer o portfólio. Não fomos muito bem-sucedidos."

No Bradesco, embora o crédito para pequenas e médias empresas venha crescendo consistentemente graças ao foco que o banco vem dando ao segmento desde o ano passado, foram as grandes companhias que mereceram destaque no resultado do segundo trimestre. O desempenho chegou a superar, inclusive, a projeção do próprio banco de crescimento anual entre 11% e 15%. No período de 12 meses encerrado em junho, o avanço dessa carteira foi de 23,6%, para R$ 103,4 bilhões. Se incluídas na conta operações de debêntures e notas promissórias lançadas pelas companhias e encarteiradas pelo banco, a expansão no período passa a ser de 28,1%, para R$ 124,87 bilhões.

Segundo o vice-presidente do Bradesco, Domingos Abreu, não houve um direcionamento específico do banco para ganhar participação no segmento de grandes empresas. O que se observou foi uma demanda maior de crédito por parte das companhias. "Não sei qual a justificativa para o aumento da procura, mas talvez o mercado externo tenha se fechado em algum momento e as captações acabaram ficando concentradas no mercado nacional", diz.

Apesar de o Bradesco não ter alterado suas projeções para o crédito, Abreu considera a possibilidade desse movimento de migração das captações internacionais para o mercado doméstico continuar no segundo semestre. O crescimento das operações junto a esses clientes tem contribuído para melhorar a qualidade média da carteira de crédito do banco.

Enquanto o segmento de pequenas e médias empresas apresentou um ligeiro aumento no índice de atrasos superiores a 90 dias, de 3,5% no primeiro trimestre para 3,6% no segundo trimestre, no grupo de grandes empresas houve redução no índice de inadimplência, no mesmo período, de 0,1 ponto percentual, de 0,5% para 0,4%. Na comparação anual, ambos tiveram queda dos calotes.

Ao dar ênfase a linhas que, por suas garantias e características, apresentam maior segurança, o Bradesco conseguiu melhorar a qualidade de seus ativos. O índice de atrasos superiores a 90 dias encerrou junho em 3,6%, ante 4% em junho de 2010. O Bradesco projeta uma estabilização da inadimplência no segundo semestre.

Por conta dessa estratégia, os spreads (diferença entre o custo de captação e o juro cobrado dos clientes) tendem a permanecer pressionados. No segundo trimestre, a margem financeira de juro foi impactada positivamente pelo aumento do volume das operações, contribuindo com R$ 470 milhões, mas minimizada pela redução do spread em R$ 152 milhões.