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Indústria aperta margem de lucros

Concorrência de importados dificulta repasse de alta nos custos para varejo

 A margem de lucros da indústria brasileira está mais apertada. Muitas companhias não estão repassando para o varejo, de forma integral, os reajustes recentes dos preços de insumos para a produção - o cobre e o alumínio, por exemplo, ficaram 25% mais caros nos últimos 12 meses. A forte concorrência com os importados, especialmente da China, é apontada como o principal entrave a reajustes maiores. Ainda que o consumidor seja favorecido com preços menos salgados, analistas frisam que, com lucros menores, os investimentos no país também ficam mais travados. 

O reajuste nos preços dos produtos, para muitas companhias, não ficou acima da inflação. A alta média dos produtos da Hypermarcas este ano, com mais de 100 marcas, oscila entre 4% e 6%. Os preços de bebidas da Ambev apresentaram reajustes em linha com a inflação. Procuradas, grandes redes de varejo não comentaram ou disseram não ter sentido pressão por repasse de alta nos custos, como o Grupo Pão de Açúcar. 

- A margem está caindo, mas há uma pressão nos custos. Os repasses foram atenuados por causa da briga com os importados. Até onde isso se sustenta vai depender do tamanho da demanda interna - disse Salomão Quadros, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

Segundo Guilherme Mercês, economista da Firjan, ao segurar os preços, as empresas lucram menos e, portanto, têm menos capacidade para investir. Pesquisa da Firjan, com quase 200 companhias, mostra que as indústrias do Rio consideram insatisfatória a margem - percepção que piorou do terceiro para o quarto trimestre de 2010. 

- O Brasil está no ápice de seu crescimento, mas esse movimento pode ser interrompido se não houver investimentos. 

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, admite a existência de uma disputa entre atacado e varejo neste momento. Diz, porém, que se trata de algo pontual, negociado e discutido para não deixar o consumidor insatisfeito. Entre os alimentos, os repasses são mais automáticos, lembram analistas. 

- A questão principal são as commodities. Quando sobem, sobem muito rapidamente, e o consumidor não entende. A carne, não tem como não repassar. O preço sobe para o pecuarista, e dois, três dias depois aumenta no atacado e varejo - afirmou Honda. 

Grandes varejistas ganham mais poder de barganha 

Segundo o economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a apreciação do real frente ao dólar também têm estimulado esse embate. E não existe sinal de mudanças nos próximos meses, mesmo com projeções de inflação menor em 2011. 

- É um aumento que bate no produtor, pressiona a cadeia e em algum momento chega ao consumidor final. É inevitável. 

Segundo Fábio Romão, economista da LCA, a alta dos preços dos insumos hoje está ligada diretamente à valorização do real, além do aumento da demanda global. Porém, com a participação maior de grandes varejistas com poder de barganha, o produtor pensa duas vezes antes de negociar. 

Exemplo disso são as grandes redes de varejo de eletroeletrônicos, como a rede Máquina de Vendas. Segundo o presidente do conselho de Administração da empresa, Luis Carlos Batista, o setor não enfrenta o problema do repasse por conta das negociações com os fornecedores. 

- São muitos lançamentos. A indústria começa a produzir 100 mil peças por mês e, com o passar do tempo, consegue na escala aumentar a produção para um milhão de unidades. Os preços muitas vezes nem têm aumento.