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Dólar começa o ano no menor preço desde 2008
Começando pelo fato: o dólar abriu o ano sob firme pressão vendedora no mercado brasileiro.
Começando pelo fato: o dólar abriu o ano sob firme pressão vendedora no mercado brasileiro. No mercado à vista, a moeda caiu 0,90% e fechou a R$ 1,651 na venda. Tal cotação é a menor desde 1º de setembro de 2008, quando a moeda encerrou a R$ 1,646.
Firme venda, também, no mercado futuro, onde o dólar para fevereiro cedeu 0,83%, a R$ 1,658 antes do ajuste final de posições na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
Agora vamos às versões do fato. A história contada nas mesas de operação desde o começo dos negócios é que um grande fundo passou o dia zerando uma posição comprada em moeda americana via contratos futuros e opções. Ou seja, esse agente estava desmanchando uma aposta de valorização do dólar. Vale lembrar que operação semelhante foi observada na quinta-feira da semana passada.
Até aí, sem grandes novidades. O que intrigou os participantes foi a forma como tal movimentação aconteceu. Esse fundo se expôs de forma curiosa, pois foi exatamente o mesmo agente que tinha montado uma robusta posição comprada entre novembro e dezembro.
Primeira pergunta: o que levou esse agente a desmontar a sua estratégia tão cedo?
Segunda pergunta: por qual motivo tal agente, conhecido pela descrição nas operações e bom relacionamento com o governo, parece ter feito questão de mostrar que estava zerando posições?
Segundo um gestor, pareceu uma "zeragem portuguesa", ou seja, o agente chama o resto do mercado para bater ainda mais no preço, sabendo que seus possíveis prejuízos crescem na proporção em que a cotação do dólar cai.
Essas duas questões levantam uma terceira. Esse fundo tomou mesmo um "stop" de posição (o preço atingiu o limite de perda que obriga a reversão da aposta) ou ele viu alguma coisa que ninguém mais viu e está se antecipando?
Por ora, todas são perguntas sem resposta.
Também não foi descartada a existência de alguma operação envolvendo opções com barreira, instrumento utilizado por agentes que operam real/dólar no mercado externo. De forma simplificada, se o dólar atingir tal preço, uma das partes é obrigada a comprar/vender uma determinada quantidade de moeda.
Depois desse ajuste de baixa, um repique de alta não está descartado no pregão de hoje. No entanto, para quem gosta de gráficos, a análise técnica sugere que o viés para o preço da moeda americana segue de baixa, mirando R$ 1,60.
Fica a dúvida, também, sobre qual será a atitude do governo com dólar na linha de R$ 1,65. No último trimestre do ano passado, dólar entre R$ 1,65 a R$ 1,70 levou o governo a fazer ameaças e intervenções de fato no mercado via Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). E levou o Banco Central a comprar dólares duas vezes ao dia no mercado à vista. Ontem mesmo, foram feitas duas atuações, algo que não ocorria desde 8 de dezembro.
Vale a pena também prestar atenção aos dados da BM&F sobre a posição dos agentes referentes ao pregão de ontem.
Cabe lembrar que os estrangeiros fecharam 2010 com posição vendida de US$ 1,85 bilhão em dólar futuro e os bancos também estavam vendidos, mas em US$ 2,12 bilhões.
Colocando na conta os contratos de cupom cambial (DDI - juro em dólar), o estoque vendido do não residente sobe a US$ 8,56 bilhões. Já os bancos aparecem comprados em US$ 5,35 bilhões.
No mercado de juros futuros, os agentes continuam "comprando" o ajuste fiscal prometido pelo novo governo. Por isso, da perda de prêmio dos contratos mais longos (janeiro de 2012 em diante).
Já os vencimentos de prazo mais curto seguem mostrando que a Selic deve subir no primeiro encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), agendado para os dias 18 e 19 de janeiro.
Ontem, Alexandre Tombini tomou posse como presidente do Banco Central. Em seu discurso reafirmou o compromisso com o regime de metas de inflação, "política ideal" para frear a alta dos preços.
Também disse que recebeu uma missão da presidente Dilma Rousseff: a busca "incansável e intransigente" do poder de compra da moeda.
Tombini também voltou a um tema de campanha, a redução da meta de inflação, hoje fixada em 4,5%. "Devemos discutir, no futuro, a convergência da meta de inflação a níveis mais baixos, semelhante aos países emergentes. Esse é um processo que devemos ter a ambição de perseguir, no futuro", disse o presidente.
Ainda no capítulo inflação, cabe lembrar que na sexta-feira é apresentado o IPCA de 2010, que deve ficar mais próximo do teto do que o centro da meta.