Rua Francisco Nunes, 1224, Testing - Prado Velho, Curitiba/BA
  • (41) 3079-6299
  • (41) 98832-9190
  • (1) 1
  • (1) 1
  • (1) 1

Mais do que prestação de serviços...

Uma parceria!

Consumo dá sinal de desaceleração

Com renda de até quatro salário mínimos mensais (R$ 2.040), essas famílias tiveram até agora pouco acesso a financiamentos.

Fonte: EstadãoTags: economia

A antecipação do consumo de carros, máquinas de lavar, fogões e geladeiras, patrocinada pela política anticíclica do governo federal, reduziu a capacidade de compra desses itens pela nova classe média brasileira. Para manter as vendas aquecidas após o fim do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que terminou em janeiro para a linha branca e expira no fim de março para os carros, o comércio de bens duráveis começa a mirar as famílias de menor renda, da classe D, como potenciais consumidores.

Com renda de até quatro salário mínimos mensais (R$ 2.040), essas famílias tiveram até agora pouco acesso a financiamentos. Por isso, estão menos endividadas em relação às famílias das classes B e C. Revendas de veículos, por exemplo, já estudam a possibilidade de alongar prazos de pagamento até 120 meses para fazer com que a prestação se "encaixe" na renda. Com isso, o varejo abre o leque de consumidores.

Apesar de não admitirem publicamente, lojas de eletrodomésticos querem chegar ao Dia das Mães com prazo de financiamento superior a 18 meses para reduzir ainda mais o valor das prestações.

Os sinais de que o ritmo de compras de bens duráveis deve diminuir e de que as indústrias começam a tirar o pé do acelerador da produção para se ajustar às mudanças do mercado já apareceram em duas pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e outra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Pelo segundo mês consecutivo, o Indicador de Expectativas de Compra de Bens Duráveis da FGV, que sinaliza a intenção de consumo para os próximos seis meses, caiu em janeiro. Fechou o mês em 81,4 pontos, a menor marca em oito meses e abaixo da média de cinco anos (82,8 pontos). A queda acumulada do índice entre novembro de 2009 e janeiro deste ano foi de 3,2%.

A sondagem industrial da FGV mostra que, em outubro do ano passado, 43,1% das indústrias de bens duráveis consideravam o mercado interno forte. Em janeiro, esse indicador caiu para 31,1%. No caso da produção de bens duráveis prevista para três meses, incluindo o mês em curso, 57,9% das indústrias esperavam em outubro de 2009 aumento da produção; em janeiro, esse indicador recuou para 33,5%. 

O uso da capacidade instalada das fábricas de bens duráveis, outro termômetro do ritmo de produção, também diminuiu no período: estava em 91,4% em outubro de 2009 e recuou para 89,1% em janeiro.

"Está havendo um freio de arrumação na produção de bens duráveis, provocado pelo aumento do endividamento das famílias e pela volta do IPI", disse o coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, Aloisio Campelo. Ele ressalta que os dados da produção industrial do IBGE confirmam a tendência.

Em dezembro, a produção total da indústria caiu 0,3% na comparação com novembro, descontadas as influências sazonais. A retração foi provocada pelo recuo de 4,9% nos bens de consumo duráveis, que inclui a queda de 1,2% na produção de veículos no período.

Isoladamente, empresas e setores da indústria não admitem que estejam reduzindo o ritmo de produção para atenuar os efeitos da ressaca do consumo dos últimos meses. Com o corte no IPI, as vendas de eletrodomésticos da linha branca, por exemplo, cresceram cerca de 20% no ano passado em relação a 2008. Nos veículos, houve acréscimo de vendas de 300 mil unidades entre dezembro de 2008 e junho de 2009, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

"O benefício foi bom enquanto durou", afirma o diretor de Relações Institucionais da Whirlpool, Armando Ennes Valle. Ele diz que não vê queda brusca em razão do fim do corte do IPI. O executivo conta que a sua empresa mantém hoje o ritmo de produção de dezembro. Os lançamentos em curso, o aumento da renda do consumidor e a perspectiva de alongar os prazos do crediário devem sustentar as vendas, argumenta.

Grandes redes varejistas de eletrodomésticos estão inclinadas a esticar os prazos por meio de parcerias com bancos públicos, segundo fontes do mercado. Mas ocorre que essas redes já têm parcerias fechadas com bancos privados, o que atrapalha o acerto de novos acordos.

A Anfavea também não prevê desaceleração e projeta crescimento de 8,2% nas vendas domésticas para este ano na comparação com 2008. Mas os números de janeiro da entidade mostram outra realidade. As vendas do mês caíram 27,2% na comparação com dezembro e cresceram 8% ante o mesmo mês de 2009, quando a crise estava no ápice.

As fábricas e as concessionárias encerraram janeiro deste ano com 259,2 mil carros em estoque, o equivalente ao giro de 36 dias de vendas. Em dezembro, os estoques eram de 245,2 mil veículos, ou 26 dias de vendas.

"As vendas continuam em queda neste mês", diz Carlos Palazzini, presidente do Grupo Palazzo, que tem 12 revendas de veículos das marcas GM, Kia e Peugeot. Para reverter o quadro, ele já fez neste mês dois feirões com condições de financiamento facilitadas. O cliente podia parcelar em 72 vezes ou em 60 meses, com entrada de 30% paga só em 2015. "Vendemos, com chuva e tudo, 400 veículos zero dos 650 que tínhamos no estoque."

Palazzini conta que pretende fazer um plano de financiamento para vender carros com prazos mais longos, de até 120 meses ou dez anos. "Quero atingir a classe D para reverter a queda nas vendas."

Pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo mostra que, entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009, o número de famílias endividadas com renda mensal de até três salários mínimos caiu de 53% para 51% no total da população desse estrato de renda. 

No mesmo período, aumentou de 53% para 54% a fatia de famílias endividadas com renda entre quatro e dez salários mínimos. "O potencial de consumo das famílias de menor renda será muito grande com o aumento no número de parcelas de financiamento", acredita a economista da entidade, Adelaide Reis