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Copom muda o tom e sinaliza aumento nos juros

O recado consta da ata da última reunião do Comitê, realizada há dez dias e na qual se decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 8,75% ao ano.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sinalizou ontem que está próximo de aumentar a taxa básica de juros (Selic) e iniciar um ciclo de aperto monetário. O recado consta da ata da última reunião do Comitê, realizada há dez dias e na qual se decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 8,75% ao ano.

 

No documento divulgado ontem, o tom é inequivocamente diferente do adotado nas atas anteriores. Agora, os diretores do Banco Central (BC) falam em superação dos efeitos contracionistas da crise financeira internacional, da redução da margem de ociosidade da indústria, do impulso do crédito e da política fiscal sobre a demanda e, por fim, do aparecimento de pressões inflacionárias.

"O Copom entende que, a se confirmar a perspectiva de intensificação das pressões da demanda doméstica sobre o mercado de fatores, a probabilidade de que desenvolvimentos inflacionários inicialmente localizados venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação poderia estar se elevando", diz a ata divulgada ontem. "Nesse contexto, aumentaria também o risco de repasse de eventuais pressões de alta dos preços no atacado para os preços ao consumidor. O Comitê avalia que a materialização desse repasse, bem como a generalização de pressões inicialmente localizadas sobre preços ao consumidor, segue dependendo de forma crítica das expectativas dos agentes econômicos para a inflação."

A menção às expectativas dos agentes mostra que o BC dará, neste momento, atenção especial às opiniões colhidas semanalmente pela instituição junto ao sistema financeiro e publicadas no boletim Focus. Nas últimas semanas, a média das expectativas mostrou elevação da inflação para este e o próximo ano. Além das expectativas, o Copom orienta suas decisões de acordo com as projeções de inflação, a análise de cenários alternativos das principais variáveis que influenciam os preços e o balanço de riscos associados às suas projeções. "(...) O Copom segue monitorando com particular atenção o comportamento das expectativas de inflação, que se elevaram no trecho intermediário do horizonte de projeção desde sua última reunião. Adicionalmente, cabe notar que o comportamento da demanda doméstica poderia exercer certa pressão sobre os preços dos itens não transacionáveis, como os serviços, nos próximos trimestres", diz a ata.

O Comitê lembra que a confiança de consumidores e empresários "exibe sinais consistentes de recuperação", mas o ritmo de atividade econômica dependerá da evolução da massa de rendimentos reais, dos efeitos das medidas de estímulo fiscal e dos incrementos das transferências governamentais (Bolsa Família e outros) que ocorrerão nos próximos meses. A ata deixa claro, no entanto, que o Copom vê riscos inflacionários adiante.

No fim da ata, o Comitê sinaliza que o aumento da Selic pode acontecer já na próxima reunião, marcada para 17 de março. "Na eventualidade de se verificar deterioração do perfil de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a inflação, neste momento, pelo Comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias", avisa o documento.

O economista Guilherme Nóbrega, do Itaú Unibanco, notou que esse trecho é "cópia exata" de um trecho usado pela última vez nas atas de janeiro e março de 2008, véspera do último aperto monetário - a última vez que a Selic subiu foi em julho de 2008, para 13,75% ao ano, dois meses antes do início da fase aguda da crise mundial. "Se valer estritamente a sequência textual de 2008, esse trecho será repetido em março e a alta começará em abril. Desta vez, entretanto, a evolução da atividade e da expectativa de inflação sugerem que o início virá mais cedo. Reiteramos nossa expectativa de uma alta de 50 pontos básicos na reunião de 17 de março", prevê Nóbrega em boletim divulgado ontem.